Sunday, April 01, 2007

O filme "300"

“300” foi aprovado

Fui à estréia do filme “300” na sexta-feira (30 de março), no Cinemark do Píer 21, sessão de 14:30. Achei o lugar muito cheio. Alunos e alunas aos montes (parecia o exército de Xerxes). Alguns me cumprimentaram educadamente, outros não me viram e outros fingiram que não me viram. Tudo bem. Não sei se essa quantidade de alunos é normal no horário de almoço de sexta-feira ou se foi excepcional por causa da estréia do filme. De qualquer forma, embora tivesse muita gente na sessão, ela não estava lotada, ao contrário do que imaginei. Mas uma coisa me chamou a atenção: o silêncio da platéia durante todo o filme, com exceção de um momento, quando um grupo de jovens gritou “This is Sparta!”, acompanhando as falas do personagem central (o pior é que ficou engraçado). De resto, as pessoas pareciam estar em transe no cinema. Não sei se a maioria gostou, mas na saída ouvi um cabeludo revoltado dizendo para os amigos: “Pô véio! Ele estragou o filme!”.
Bem, eu gostei bastante dos “300”. Pretendo vê-lo de novo e vou comprar o DVD quando for lançado. Por que gostei? Primeiro, porque adoro filmes épicos e de guerra, principalmente se baseados em algum fato da Antiguidade. Obviamente, isso por si só não é garantia de um bom filme. Vai depender também de como o enredo foi construído, da direção, da fotografia, do figurino e da música. A fidelidade histórica não é fundamental se o objetivo do filme for o entretenimento, a diversão, a fantasia em cima do que aconteceu – uma boa estória inspirada na história. Nesse tipo de filme esses outros fatores, digamos “técnicos” e “estéticos”, acabam tendo um peso muito maior do que a fidelidade aos acontecimentos. E essa foi a segunda e principal razão de ter gostado do filme: ele é um espetáculo de imagens e sons, com boas atuações e uma estória que prende a nossa atenção. Ele não é um documentário ou um daqueles filmes com pretensões de reconstituir a história, como nas produções do Discovery Channel, da BBC ou do National Geographic. Mesmo assim, “300” é razoavelmente fiel à história e não distorceu de forma absurda os acontecimentos que o inspiraram.

Os “300” de Frank Miller

“300” é uma adaptação de uma história em quadrinhos ou, como virou moda dizer, de uma “graphic novel”, com o mesmo título, do escritor e desenhista americano Frank Miller, lançada em 1998. Miller possui uma legião de fãs e é cultuado como uma espécie de “mestre” da sua geração de HQ. Eu acho os seus desenhos umas porcarias, chatíssimos de ver. Comprei na época os 5 números de “300”, li e joguei fora só por causa das ilustrações. Não compro mais nada ilustrado por ele e nem vou comprar. Nesse ponto sou muito mais conservador em termos de arte gráfica e prefiro desenhistas antigos como Frank Frazetta (insuperável), Hal Foster, Burne Hogarth, Joe Kubert e, vá lá, Russ Manning. O ponto forte de Miller são suas estórias, que costumam render bons roteiros para o cinema de ação (além de “300”, foram os casos de “Sin City” e “Elektra”). Acompanhados por um diretor competente, música adequada e recursos de efeitos visuais e sonoros de primeira linha, esses roteiros dão uma outra dimensão à obra de Miller, que os quadrinhos não conseguiram até hoje atingir.

A história que inspirou os “300” de Frank Miller

A estória dos “300” de Frank Miller é uma adaptação livre de um dos episódios militares mais famosos da Antiguidade – a Batalha das Termópilas, em 480 aC, entre gregos e persas, relatado, entre outros, pelo historiador Heródoto (484-425 aC). Na época da batalha, a Grécia estava dividida em pequenos Estados independentes ou cidades-estados, como Atenas, Esparta e Tebas. A Pérsia - atual Irã - por sua vez, dominava um poderoso império no Oriente Médio. Os persas organizaram um gigantesco exército (talvez 250 mil homens) comandado pelo rei Xerxes I e invadiram a Grécia com a intenção de incorporá-la aos seus domínios. O rei Leônidas I de Esparta, chefiando um pequeno contingente de gregos - uns 6 mil, entre eles 300 espartanos, considerados os melhores guerreiros da Grécia - dirigiu-se às Termópilas (“portões de fogo”), uma passagem estreita entre as montanhas e o mar na rota da invasão persa. Sua intenção era atrasar o máximo possível os invasores enquanto os gregos organizavam suas forças de defesa. Por três dias, possivelmente no mês de agosto de 480 aC, os espartanos e os outros gregos conseguiram deter os persas que sofreram perdas terríveis tentando inutilmente romper as defesas de Leônidas. Até as tropas de elite do exército persa, conhecidas como os “Imortais”, foram repelidas para desespero de Xerxes. Contudo, um grego chamado Efialtes revelou aos persas a existência de uma trilha secreta pelas montanhas que permitiria contornar e cercar as forças gregas. Leônidas sabia da existência desse caminho alternativo e tinha previamente enviado para lá 1.000 soldados da Fócida com a missão de guardá-lo. Quando o exército persa se aproximou do local, os fócios recuaram para outra linha de defesa. Ao invés de atacá-los, os persas continuaram avançando na direção das forças de Leônidas. Percebendo o cerco iminente, grande parte dos gregos fugiu ou recebeu ordens de Leônidas para se retirar. Entretanto, Leônidas permaneceu nas Termópilas com o que restava dos 300 espartanos, de 700 soldados da Téspia (que, sob o comando de Demófilo, haviam se recusado a abandonar seus aliados) e de 400 de Tebas (forçados a ficar por ordem de Leônidas). Não sabemos o total de soldados gregos que restaram para o confronto final, mas possivelmente eram menos de mil. Na luta encarniçada que se seguiu, os dois lados combateram com fúria e coragem. Dois irmãos de Xerxes e outros membros da família real persa morreram no enfrentamento. Leônidas também foi morto e seu corpo foi disputado desesperadamente pelos espartanos e persas. No final, os espartanos formaram um bloco compacto de soldados e foram massacrados pelas flechas e dardos persas. Os téspios também foram dizimados, mas os sobreviventes tebanos acabaram se rendendo. Xerxes, que não participou diretamente dos combates e nem foi ferido, ordenou que a cabeça de Leônidas fosse cortada e seu corpo crucificado.
A invasão persa continuou depois dessa difícil vitória na Batalha das Termópilas. Atenas chegou a ser tomada e incendiada, mas seus habitantes tinham fugido antes da chegada dos persas. No entanto, em setembro de 480 aC a frota persa de 1200 navios foi destruída por uma esquadra grega com 380 navios, na Batalha de Salamina, onde se destacaram os atenienses sob o comando de Temístocles. E, em julho (?) de 479 AC, uma força de 80 mil gregos (5 mil espartanos), chefiada pelo rei espartano Pausânias, destroçou o exército persa de 100 mil soldados na Batalha de Platéia. Com as derrotas de Salamina e de Platéia, a invasão persa fracassou e as cidades-estados da Grécia continuaram livres. Quanto a Xerxes, em 465 aC, ele foi assassinado na Pérsia por um dos seus ministros. Em 440 aC, no reinado de Artaxerxes I, sucessor de Xerxes, o corpo de Leônidas foi devolvido aos espartanos – 40 anos depois de sua morte na Batalha das Termópilas.
Segundo as antigas fontes históricas, pelo menos dois espartanos sobreviveram à Batalha das Termópilas: Pantites e Aristodemus. Pantites tinha sido enviado por Leônidas à região da Tessália para recrutar mais soldados, antes da batalha começar. Ele fracassou nessa missão e quando retornou para as Termópilas, a batalha já tinha terminado e seus companheiros estavam mortos. De volta a Esparta, foi desprezado pelos espartanos por não ter participado do ato de heroísmo em Termópilas e acabou se suicidando. Aristodemus e outro espartano, Euritos, tinham ficado gravemente feridos nos olhos durante a batalha e Leônidas ordenou que ambos retornassem para Esparta. Contudo Euritos acabou voltando para as Termópilas e morreu nos combates. Aristodemus retornou para sua cidade mas como Pantites, foi menosprezado e humilhado pelos espartanos. Para tentar se redimir, lutou feito um alucinado em Platéia.

O filme “300”

“300” tem 117 minutos e foi dirigido por Zack Snyder, com roteiro dele e de Kurt Johnstad. A maior parte do enredo de Frank Miller foi preservada. O rei Leônidas é interpretado por Gerard Butler, Xerxes por Rodrigo Santoro, a esposa de Leônidas, a rainha Gorgo, é interpretada por Lena Headey (lindíssima) e Efialtes por Andrew Tiernan. Todos esses personagens existiram, segundo as fontes antigas. Mas o filme acrescentou personagens fictícios, alguns inspirados em figuras reais. Por exemplo, o espartano Dilios (David Wenham) foi baseado em Aristodemus. Outro espartano, Stelios (Michael Fassbender), foi baseado em Dieneces que, diante da ameaça dos persas lançarem sobre os gregos tantas flechas que elas tapariam o sol, teria dito que assim seria melhor porque lutariam na sombra. Daxos (Andrew Pleavin), o guerreiro árcade, parece ter sido inspirado em Demófilo, embora no filme ele tenha fugido das Termópilas para escapar do cerco persa. O capitão espartano Ártemis (Vincent Regan) e seu filho Astinos (Tom Wisdom) são fictícios, mas podem ter sido inspirados em dois irmãos que lutaram com distinção na batalha, Alfeu e Marons. O principal vilão fictício do filme é o conselheiro espartano Theron (Dominic West).
O filme, assim como a história em quadrinhos repito, não tem pretensões de rigor histórico. Portanto, falar que o filme possui “erros” não seria adequado, já que esses “erros” são conscientes e propositais. O mais correto seria falar em “adaptações” ou mesmo “invenções livres”. Diversas análises foram feitas apontando essas adaptações e invenções e não vou repeti-las aqui. Para os interessados, indico os seguintes comentários disponíveis na internet, todos em inglês:

http://en.wikipedia.org/wiki/300_(film) – detalhes sobre o filme, sua fidelidade histórica e as críticas favoráveis e desfavoráveis em um artigo equilibrado da Wikipedia.

http://en.wikipedia.org/wiki/Battle_of_Thermopylae - outro bom artigo da Wikipedia, tratando da Batalha das Termópilas.

http://www.chasingthefrog.com/reelfaces/300spartans.php - um ótimo “fato e ficção” do filme.

http://www.iranian.com/Daryaee/2007/March/300/index.html - uma visão negativa e pró-persa do filme.

http://www.thestar.com/article/190493 - outro artigo desfavorável ao filme, criticando sua pouca precisão histórica.

http://www.victorhanson.com/articles/hanson032807.html - uma defesa convincente do filme.

http://www.perseus.tufts.edu/ - textos antigos sobre a Batalha das Termópilas e os personagens reais retratados no filme.

Se vocês tiverem paciência, leiam esses artigos depois dos meus comentários ao final dessa postagem.
Por fim, como já falei em outra postagem, vejam a versão mais antiga da Batalha das Termópilas no filme “Os 300 de Esparta” (“The 300 Spartans”), disponível em DVD. Ele é uma produção de 1962, dirigida por Rudolph Maté. Richard Egan faz o papel de Leônidas, David Farrar representa Xerxes e Ana Synodiou é Gorgo. Embora sem os recursos técnicos do “300” mais recente, o filme de Maté é muito mais fiel aos acontecimentos. Parece que Frank Miller resolveu escrever sua estória inspirada nesse filme de 1962.

A violência e o preconceito cultural dos “300”

“300” é um filme violento (se não me engano ele é proibido para menores de 16 anos) que opõe de forma maniqueísta os gregos (símbolos da liberdade) aos persas (símbolos da opressão). Ele vem sendo muito criticado por isso, com alguns dizendo que é uma apologia à violência e ao fascismo (irracionalismo militarista ultra-nacionalista), além de ser uma propaganda ideológica contra o Oriente de uma maneira geral e à Pérsia, quer dizer, ao Irã, de forma particular. Segundo esses críticos, o filme induz o espectador a legitimar e a valorizar a violência e a considerar o Irã-Pérsia uma ameaça ao Ocidente.
Bem, o filme retrata uma batalha, onde um grupo de guerreiros foi dizimado por outro. Como não ser violento?
A batalha ficou famosa pelo heroísmo dos gregos, sobretudo pelo senso de dever e sacrifício coletivo pela pátria e por valores políticos considerados dignos de luta – coisas que, no mundo atual, cada vez mais individualista, consumista, cínico e amoral, são vistas por muitos como ultrapassadas, anacrônicas, absurdas ou simplesmente ridículas. No nosso mundo, exigem-se cada vez mais direitos, mas os deveres são desprezados, ironizados e orgulhosamente descumpridos. Assim como interpretar sob o ângulo dos “valores” dominantes de hoje, o que aconteceu nas Termópilas?
A sociedade espartana era altamente militarizada. Os espartanos formavam uma elite de cidadãos que eram soldados profissionais, submetidos a uma rigorosa disciplina e treinamento desde crianças, proibidos de exercerem outras atividades até os 60 anos. Esse tipo de profissionalismo militar não era comum nas cidades-estados gregas. De fato, os cidadãos das outras cidades, como Atenas, eram agricultores, artesãos e comerciantes que só pegavam em armas em tempos de guerra. O serviço militar era um dever cívico desses cidadãos, que tinham de se armar com seus próprios recursos. Assim, seus exércitos não eram permanentes e profissionais como os de Esparta eram na verdade, uma espécie de “milícia” de cidadãos-soldados. Por essa razão, os guerreiros espartanos se destacaram em relação aos demais guerreiros gregos. Ainda assim, mesmo sem o grau de especialização, treinamento e eficiência dos espartanos, os exércitos não-profissionais das outras cidades gregas constituíram uma terrível máquina de combate. Na verdade, o conjunto dos guerreiros gregos, incluindo obviamente os espartanos, foram os melhores do mundo antigo em 550-350 aC, como os persas descobriram. Como não destacar esse militarismo “fora de moda” num filme sobre guerreiros gregos, sobretudo espartanos?
O filme e o fato que o inspirou têm sim muito de sanguinolento, de apologia à força bruta, de instinto animalesco do enfrentamento físico e brutal entre rivais – aquilo que antigamente era chamado de “filme de macho”. Esse aspecto irracional, tão fundamental nas origens das guerras e da violência de uma maneira geral, é incompreensível para muitos, sobretudo, para os que acreditam que o homem é naturalmente bom e pacífico e que todo ato violento tem causas exclusivamente sociais ou econômicas isto é, em distorções estruturais da sociedade. Como, sob esse ângulo, compreender o prazer em lutar e matar retratado no filme?
A questão se torna mais complexa quando lembramos que a sociedade grega foi muito mais violenta do que a sociedade moderna capitalista e, ainda assim, inovadora e revolucionária no campo cultural. Os gregos utilizaram-se amplamente da escravidão, freqüentemente o “comércio” grego confundia-se com a pirataria e as guerras eram quase endêmicas entre suas cidades-estados. Contudo, essa violenta civilização foi a mesma que criou e nos legou a filosofia, os fundamentos da ciência moderna, da indagação racional e da ciência política. As bases da literatura, das artes plásticas e do teatro do Ocidente foram inventadas pelos antigos gregos, enquanto exploravam de forma brutal o trabalho de outros seres humanos e se matavam em constantes guerras. Como uma civilização guerreira pôde lançar as bases de uma cultura humanista?
Em geral, as cidades-estados gregas ou póleis possuíam regimes republicanos com governos eleitos pelos cidadãos isto é, pelos indivíduos com direitos e deveres políticos. Mesmo em Esparta, onde existia uma monarquia dual ou diarquia (dois monarcas simultaneamente) com poder reduzido, os principais magistrados eram os éforos, eleitos pelos cidadãos-soldados com mandato anual. Em todas as póleis com governos representativos existiam assembléias de cidadãos e órgãos consultivos que controlavam e limitavam o poder executivo. Dependendo da quantidade de cidadãos com plenos direitos, a cidade-estado assumia a forma de uma oligarquia (um “governo de poucos” ou da aristocracia, isto é, das famílias da nobreza, como em Esparta) ou de uma democracia (o “poder do povo” quer dizer, do conjunto de cidadãos, incluindo nobres e pessoas comuns, como em Atenas). Embora os cidadãos constituíssem sempre uma minoria da população adulta (as mulheres não possuíam direitos políticos e uma parte considerável dos trabalhadores era formada por escravos), ainda assim, a simples existência da noção e da prática da cidadania, bem como a concepção de Estado, de liberdade e de igualdade que implicavam, representaram um fato inédito nas civilizações antigas. Como deixar de retratar esses valores num filme ambientado na Grécia Antiga?
Em contraste com a Grécia, no Oriente Médio o Estado assumiu feições mais absolutistas ou despóticas consolidadas na monarquia do reino da Pérsia que, no século VI aC, dominou grande parte da Ásia Ocidental e o Egito, formando o poderoso Império Persa. O imperador persa tinha o título de xá ou, mais precisamente, xšāyaθiya xšāyaθiyānām – “rei dos reis”. O título indica as pretensões universalistas e imperialistas da monarquia persa, fato que se refletiu na política de expansão territorial e de domínio sobre vários povos. De fato, os habitantes do império não eram cidadãos, eram súditos. O Estado persa não era fundamentado em assembléias e conselhos de cidadãos ainda que o xá precisasse, para governar, do apoio da família real, dos membros da nobreza e, principalmente, da burocracia imperial. Caso a Grécia caísse sob o domínio dos persas, o potencial de desenvolvimento das tradições de cidadania, de governos representativos, de liberdade de discussão e da indagação filosófica seria sufocado, com efeitos desastrosos para a formação da civilização ocidental. Isso não é especulação e nem preconceito cultural, mas uma conclusão a partir das evidências que possuímos. No século VII aC, a vanguarda política e intelectual da civilização grega estava com as póleis estabelecidas em séculos anteriores na Ásia Menor (atual Turquia). Depois que o Império Persa conquistou essas cidades-estados no século VI aC, elas perderam essa liderança cultural e passaram a ter um papel mais marginal no desenvolvimento da civilização grega.
Na verdade, a visão de que a guerra entre gregos e persas representou um confronto entre a liberdade política e a servidão não foi criada por nós, mas pelos próprios gregos que sabiam muito bem o que tinha acontecido e o que estava acontecendo nas terras do leste. É claro que essa avaliação dos gregos precisa ser posta à crítica histórica. Em grande medida ela foi e chegou a conclusões parecidas com a dos gregos. Acontece que da década de 1970 para cá, essa interpretação passou a ser considerada ideológica por muitos historiadores e vem sendo cada vez mais combatida. Atualmente, é considerado “politicamente incorreto” falar em tradição despótica do Oriente em oposição à tradição de liberdade do Ocidente. Quem mais condena esse tipo de comparação, considerada preconceituosa, são os chamados multiculturalistas. Sob o argumento de que todas as criações culturais devem ser respeitadas, de que nenhuma cultura é melhor ou superior à outra e de que todas têm o mesmo valor histórico, muitos multiculturalistas ou relativistas culturais acabaram se tornando antiocidentais. Afirmam que destacar os valores gregos ou ocidentais é uma postura preconceituosa e ideológica, que precisa ser evitada e banida das análises históricas, sobretudo as comparativas. Assim, para encobrir as realizações políticas e culturais da Grécia, esses historiadores antiocidentais destacam o caráter limitado da cidadania antiga, a prática da escravidão e a submissão das mulheres, ou seja, enfatizam aquilo que consideraríamos os aspectos mais negativos da civilização grega. No final, essa postura antigrega, antiocidental e multiculturalista é que se tornou ideológica e preconceituosa. Como fazer uma “leitura” da tradição grega difundida no filme “300” sob esse prisma ideológico e antiocidental?
Na verdade, se o filme “300” não retratasse a violência, os valores gregos e a oposição entre seus costumes e os dos persas, ele seria muito mais impreciso historicamente – muito mais ficção do que história.
“Ahuu"!

2 comments:

susuchan said...

O melhor é o senhor dizendo "Alguns fingiram que não me viram, mas tudo bem..." =D

Eu gostei bastante, bastante mesmo, do filme! Sempre fui fã das civilizações antigas e em especial a grega é um das minha favoritas junto da Egípcia, adoro muito filmes baseados na antiguidade, e fiquei congelada vendo aquele show todo de efeitos e tudo mais! Não deu nem para comer pipoca! Cada cena foi fascinante, e sim, eu paguei muito pau para ele!!! Achei até que incrivelmente fiel à historia (ingenuidade minha? o.o) tirando alguns aumentos para ficar mais emocionante, mas gostei também.

Um grande abraço professor! Adoro suas aulas viu?
Cuide-se!

Suelen, 2º G.

José Wagner Alcântara said...

Professor, 300 é um filme de adolescentes. Certas cenas ficariam melhor em um vídeo game do que em um filme.
Não tem contexto histórico.
Quer alçar-se à categoria de épico, mas não passa de uma história em quadrinhos. É um engodo tanto quanto o tal de Código da Vince, que alguns ingênuos ainda hoje teimam em achar que é uma pesquisa científica séria.
Ademais o senhor faz uma defesa muito veemente da violência, mas esparta é vista por muitos historiadores como um centro de tirania e opressão e atenas sim como o verdadeiro centro das boas tradições ocidentais. Então, a não ser como um filmizinho de sessão da tarde (o que daqui alguns anos vai acontecer), não vejo nada de interessante no tal do 300, que tem um pretensão que não lhe cabe, épico e filme histórico. Não é nem uma nem outra